02/04/2024

existências amarrotadas

Passamos uma vida entre pingos da chuva 
Achamos que ficamos secos 
Se acreditarmos que as dificuldades maiores 
Nos caem que nem uma luva. 

Mas vivemos encharcados 
Enquanto permanecermos atracados. 
Enquanto escolhermos manter os olhos fechados 
Seremos sempre ofuscados, 
Torturados, 
Pelos nossos próprios significados. 

Vivemos equivocados, 
Entre mentiras, 
E presos no tempo que abdicámos. 
Levantamos trincheiras 
Sem percebermos que já é terça-feira. 

E amanhã, 
permaneceremos na mesma cadeira?

19/03/2024

A sorte que se soletra

A frustação levou-me a acreditar
na sorte
em particular,
na falta dela.
Esta propensão ao inevitável
são sentimentos que nos abalam,
que arreliam
e nunca terminam.
É verdadeiramente a sorte
a realidade que queremos?
Tal como a imaginação a sorte
é um mundo cheio de utopias e distopias
que só existem na sua inexistência.
E assim criamos prisões em lugares
que mais tarde não reconhecemos,
não lembramos.
Fabricam-se confusões
em volta de ilusões
cognitivamente inatingíveis e compreensíveis.
Erradicamos a possibilidade de ter uma voz
ativa
pronta de respostas.
É apenas a lei opressiva que opina.
Questiono: como deixamos que se elege
e albergue uma ditadura dentro de nós?
Teoricamente a sorte é selvagem,
só vantagens
mas na prática...
disfarça-se de autossabotagem.
Que regime este.
Que cobardia a minha...
A sorte é uma saída ou fantasia?

27/01/2024

.

Fomos filhos da mesma época.

Lias literatura clássica enquanto desenhavas poemas.

Eu, compassadamente gosto de poesia

e escrevo na teoria,

palavras aglomeradas

das preocupações de uma sociedade

cansada delas.

Mas uso as tuas emprestadas

como minhas.

Para que o sossego se pareça maior.

Repito repetidamente a mesma melodia -


Encontrar poemas

escondidos,

é como encontrarmo-nos

nas entrelinhas.

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